Semelhante ao post de ontem, este tweet traz uma escolha deliberada por um item lexical em detrimento de outro.
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'Especuladores de terra' pretensamente procura se afastar de associações discursivas que 'grileiros' carregava. Esse termo mais antigo remete à apropriação indevida e ao desmatamento. Pela etimologia, a palavra vem do ato de deixar escrituras falsas em contato com grilos com o propósito de dar ao documento um aspecto envelhecido.
Assim, 'grileiros' são associados a um crime, enquanto 'especuladores de terra' estariam apenas fazendo sua parte no jogo do mercado.
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Do ponto de vista do discurso, isso pode se explicar pela noção teórica da FORMAÇÃO DISCURSIVA, que, ao fim e ao cabo, sobredetermina os dizeres. Trocando em miúdos: a gente não diz o que quer, mas o que está autorizado pela nossa formação discursiva. Essa noção, muito cara para as análises do discurso (sim, no plural mesmo!), diz respeito ao fato de que os enunciados emergem em decorrência de quem fala e a vinculação desse sujeito a uma formação social e uma formação ideológica, numa dada inscrição histórica. Basicamente, e de modo meio grosseiro, a gente só CONSEGUE produzir certos enunciados, justamente porque somos o que somos no momento em que somos. Eu diria, por exemplo, que um ‘especulador de terra’ é tão criminoso quanto um ‘grileiro’ porque a minha formação discursiva (social e ideológica) compreende o ‘jogo do mercado’ como um tipo de artimanha requintada da vilania. Mas aí, sou eu. Para os que estão pleiteando a mudança, parece haver que o novo termo é mais fresco e ~~ sem viés ideológico.
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Enganam-se em várias camadas e vou dizer apenas uma: léxico é ponto de vista e ponto de vista é ideológico.
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Agradeço à @guidabitt, analista do discurso que dá cursos de escrita e leitura supimpas e que contribuiu pra redação deste post! 🤓
(esse post foi originalmente postado no instagram da @profe.luana. Confere lá que tem um monte de análise legal)
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